Pular para o conteúdo principal

Bombay Groovy na estrada: figurino suado, hotel apertado e por que uma boa lava e seca salva a pele

 Quem já colou num show da Bombay Groovy sabe que a parada não é só som. É luz colorida na cara, sitar rasgando o ar, batera pesadona, aquele clima meio psicodélico, meio viagem, que faz a gente esquecer até do horário. Mas tem um detalhe nada glamouroso por trás disso tudo que ninguém vê: as roupas. Sim, mano, figurino também soa, fede e amassa. E alguém tem que dar conta disso no dia seguinte. Figurino não é só estilo, é trampo também Desde o começo da banda, a gente sempre pirou no visual junto com o som. As camisas estampadas, os tecidos diferentes, as cores mais viajadas… nada disso é por acaso. A gente quer que o palco pareça uma extensão da música. Alias, a maioria da banda usa Rock code Só que é assim na prática: luz quente na cara, palco pequeno e lotado, corre pra desmontar equipamento, joga tudo na mala, entra na van/hotel… E no outro dia: tem show de novo . Mesma roupa? Deus me livre. kkk Um perrengue clássico de estrada Teve uma vez que a g...

Relatos de uns dias atrás

  Ontem foi um daqueles dias que começam meio “normalzinho” e terminam com a sensação de que São Paulo te mastigou, te cuspiu e, mesmo assim, você ainda quer um bis.

Acordei com o barulho clássico: ônibus freando lá fora e alguém discutindo no portão como se fosse final de campeonato. Abri o celular e já tinha mensagem no grupo da banda: “Mano, o amp tá chiando de novo. Quem pegou por último?” Começou. Café correndo, camisa preta de sempre (porque, né… banda de rock em SP, se não tiver pelo menos três camisetas pretas, nem entra no rolê), e bora pro nosso quartinho de guerra — aquele estúdio que a gente chama de “estúdio” pra parecer profissional, mas que na real é um lugar com mais história do que ventilação.

O dia era ensaio + corre de trampo + show à noite num pico pequeno ali no Centro. E essa é a parada: quem vê foto no palco acha que a gente vive num clipe. Só que antes do palco tem a vida acontecendo no modo “corre”, tá ligado? O ensaio começou com a bateria atrasada (sempre), o baixo com o cabo falhando (sempre também), e o vocalista chegando com uma ideia do nada: “E se a gente mudar o refrão no meio, tipo… deixar mais gritado?” Aí você pensa “lá vem”, mas quando a gente testou… ficou da hora. São esses momentos que salvam o dia. A música vira um bagulho vivo, não só uma sequência de acordes.

No meio do ensaio, caiu aquela chuva de SP que não avisa. Um minuto tá abafado, no outro o céu vira um cinza de filme e você só aceita. A gente ficou ouvindo a água batendo na telha, e por uns segundos ninguém falou nada. Papo reto: tem uma poesia meio torta nisso. A cidade grita o tempo todo, e aí vem a chuva e dá uma “segurada” na zoeira. Só que logo passa, claro. SP não deixa você romantizar por muito tempo.

Fim do ensaio, cada um pro seu lado. Eu fui resolver umas paradas, e na volta peguei metrô lotado, aquela experiência espiritual chamada “Linha Vermelha em horário de pico”. Você entra e já perde metade da alma, mas ganha material pra letra. O povo espremido, fone no ouvido, cara fechada, e no meio disso tudo você pensando: “Mano, hoje tem show.” E isso dá um gás absurdo. Porque por mais que a cidade te desgaste, ela também te dá esse combustível — a urgência, o barulho, a pressa. A gente é filho desse caos, querendo ou não.

Chegou a hora do show e começou o perrengue padrão: carregar equipamento, subir escada estreita, desviar de gente, achar tomada, descobrir que a tomada não funciona, pedir extensão, trocar fusível, aquela novela. O lugar era pequeno, palco baixinho, bem colado na galera. Eu curto isso. Tem show que é grande, bonito, luz, fumaça, pá… mas show pequeno tem um negócio que não tem preço: você vê o olho do povo. Você sente o “vamo” antes de tocar a primeira nota.

Passagem de som foi na raça. A guitarra tava alta, o microfone apitando, o retorno brigando com a gente. Aí o técnico soltou um “é isso aí mesmo, mano, aqui é roots” e eu ri porque é exatamente isso. “Roots” em São Paulo geralmente significa “vai dar certo do jeito que der”. E deu.

Quando a casa começou a encher, foi vindo uma galera que a gente já conhece de outros rolês, mais uns amigos de amigos, e uns desconhecidos com cara de “vim porque me falaram pra colar”. E eu acho isso muito louco: alguém escolhe gastar uma noite, uma grana, um tempo, pra ver um bando de maluco tocando música autoral. É um voto de confiança silencioso.

A gente subiu no palco e já na segunda música rolou uma zica: apagou uma parte da luz e a energia deu uma fraquejada. Não caiu tudo, mas deu aquela piscada que faz o coração dar um pulo. A galera reagiu com grito, riu, como se fosse parte do show. E aí a gente teve que decidir rápido: ou trava e espera, ou segue. A gente seguiu. Baixou o volume um pouco, o vocal veio mais pra frente, e por uns minutos ficou quase “semi-acústico” no improviso, só no impacto da batida e na voz. E, mano… foi bonito demais. A galera cantou junto um trecho que nem é single, nem é hit, nem nada. Só cantou porque tava ali, porque pegou. Esse tipo de coisa te dá uma certeza que nenhum número de stream dá: a música existe de verdade quando bate em alguém do outro lado.

Depois que a energia estabilizou, a gente voltou com tudo. Sabe quando você sente a banda “encaixar”? Parece que a cidade, o barulho, o trânsito, o metrô, o boleto, tudo vira uma massa e você transforma em som. O show foi passando, a gente suando, rindo, errando uma viradinha aqui, acertando bonito ali. No final, aquela sensação clássica de “caramba, passou rápido”. Sempre passa rápido.

Depois do show, vem a parte que ninguém posta: desmontar tudo, guardar, carregar, discutir onde vai comer porque tá todo mundo faminto, e ainda assim ninguém quer ir embora. A gente ficou ali na calçada um tempo, trocando ideia com a galera, ouvindo feedback, recebendo abraço, prometendo música nova, marcando próximos rolês. E tem uma frase que um cara falou que ficou na cabeça: “Mano, eu tava numa semana mó pesada e hoje eu respirei.” Pô. É isso. Não é sobre ser famoso, nem sobre virar “grande” do nada. É sobre esse respiro.

A gente terminou numa padoca 24h, porque São Paulo é assim: você pode estar destruído às 2 da manhã e ainda tem pão na chapa te esperando. Sentamos com cara de quem apanhou, mas com aquele sorriso besta de missão cumprida. E eu fiquei pensando que, no fundo, a vida de banda aqui é essa mistura meio maluca: caos e carinho, pressa e pausa, ruído e refrão.

São Paulo não é uma cidade fácil, mas ela ensina a gente a ser teimoso. E rock, no final das contas, é isso: teimosia bem afinada.

Se você colou, valeu demais. Se não colou, cola na próxima. A cidade é grande, mas o nosso rolê é junto.


Agradecimentos especiais a todos os nossos patrocinadores 

https://www.casarock.com.br/
https://guiadacompra.com/
https://www.lojaconstelacao.com.br/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mudamos a identidade visual!

  Caros fãs, É com grande entusiasmo que anunciamos a mudança em nosso logo, inspirado nos desenhos de mangás japoneses. Sabemos que essa decisão pode causar surpresa e até mesmo estranheza, mas gostaríamos de explicar os motivos que nos levaram a essa escolha. Os desenhos de mangá têm um impacto cultural significativo não apenas no Japão, mas em todo o mundo. Suas narrativas envolventes, personagens carismáticos e estilo visual único conquistaram milhões de fãs ao redor do globo. E essa influência se estende para diversas áreas, incluindo a música. Muitas bandas e artistas musicais encontram inspiração nos mangás não apenas em termos visuais, mas também na maneira como contam histórias e exploram emoções por meio de suas letras e melodias. A energia pulsante dos mangás pode ser comparada à intensidade do rock, que muitas vezes aborda temas como rebeldia, amor, luta e superação - elementos presentes tanto nas histórias dos mangás quanto nas músicas da banda. Ao adotar um novo logo ...

Bem vindo ao Fã Clube!!

Você é fã da experimentação sonora que dispensa os elementos vocais, substituídos por linhas consistentes de baixo, solos virtuosos de órgão, melodias transcendentais de sitar e percussão pesada, feitas pelos meninos da Bombay Groovy? Você está no lugar certo! Fotos, videos, notícias e agendas dos shows, você encontra tudo aqui no site do maior fã clube da Banda Bombay Groovy! Hoje o nosso fotógrafo é conhecido pelo seu talento nato em registrar os melhores momentos da banda mas nem sempre foi assim. Em meados dos anos 2000 ele começou a estudar fotografia e anos mais tarde se especializou e criou um artigo para explicar o melhor curso online de fotografia , afinal ninguém tem tempo mais de estudar em uma escola ou universidade sendo que com alguns reais investidos temos todo o conhecimento em nossas mãos. Abraços da Bombay Groovy!